quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Brilhozinho nos olhos


Era assim todas as manhãs de férias. Acordavamos tarde o suficiente para ainda estar tudo a dormir. Desciamos as escadas à pressa e fechávamos a porta ao cimo das escadas. Escondiamos a gargalhada por baixo da concentração de descer as escadas sem fazer barulho. Cá em baixo fazíamos o pequeno-almoço. Desperdiçávamos meio pacote de leite, que com a abertura difícil tornava impossível a tarefa de rir ao mesmo tempo, comíamos meio pacote de bolachas de chocolate. Era nessa altura que chegava a minha mãe, com a voz ainda de sono. Ria-se de tanto disparate, ralhava um bocadinho e comia connosco. Depois, depois... Depois vinha a visita à outra avó que morava do outro lado da aldeia. A mãe do pai. Beijinhos. E regressava-se. Por um caminho sem carros, mas com carroças (agora tractores), com flores nos paseios que estavam livres, com estrumes, e palhas, e risos, e labirintos. Agora apagou-se a luz. São menos os risos, menos as bolachas, menos o leite desperdiçado, menos carroças mas também menos tractores, menos visitas à outra avó porque também há menos visitas à casa desta (onde dormia sempre bem e acordava sempre cedo) que já partiu. Mesmo assim a memória não se apaga. Ainda ouço o 'Vens lá cara linda?', o 'bom-dia menina, bonita que está hoje!', o 'olá minha neta', ouço com o coração. Ouve-se sempre melhor assim.
PS: a imagem podia ser uma foto, mas as fotos, como todas nestas situações, são demasiado pessoais. Imaginem como era bom. Que era... Muito mesmo.

Sem comentários: