sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Bocado de mim

Dei-te um bocado de mim para que o guardasses no coração. Mostrei-te como o podias utilizar para te sentires melhor, para te sentires pior, para teres saudades, para o apertares e dares beijinhos. Do mesmo modo que te dei um bocadinho a ti (e recebi teu), dei também a todos aqueles que se mostraram dignos da minha confiança. Àqueles que não conheço mas que me dão os ‘bons-dias’ com sorrisos. Àqueles a quem pergunto as horas e nunca mais torno a ver. Àqueles como tu que todos os dias me ouvem, nem que seja para dizer mal da vida, mal de mim.
E só peço que o guardes, naquele bolso da camisola que está bem perto do coração. Que nunca te esqueças que era meu e que o vás procurar para agarrar e apertar com força porque sentes saudades.
Às vezes acho que te enganas no bolso quando o guardas, que com a pressa o pões nas calças e deixas de sentir que ele lá está. Que lá estava eu. E assim, deixas de te lembrar que eu existo, que eu gosto de ti, que espero atenção, carinho, força, afecto, reprimentas, puxões de orelhas… Acho até, que só eu é que guardo os bocadinhos dos outros (e que ninguém se lembra do bocadinho de mim). O teu, o da pessoa que me diz ‘bons-dias’, os dos que me dizem as horas, o da criança que sorriu para mim, do avô que acenou…
E nessas alturas sinto-me vazia. Parece que dei demais. Parece que o bocadinho de mim que te dei me faz falta. Parece que tu não merecias um bocadinho meu. Um bocadinho de afecto, de atenção, de sonho, de vontade, de mim…

3 comentários:

Mafalda disse...

Talvez às vezes me esqueça de pôr o bocadinho que tu me deste junto ao coração, mas podes ter a certeza de que ele continua lá.

Esquecer mesmo, só do cartão da escola.

E depois, fala a aventesma...

Beijinhos*

paddy disse...

Eu sinto muitas vezes que dou bocadinhos meus às pessoas erradas. Ainda se soubessemos quais são as certas a quem dar...

Lia disse...

É verdade, às vezes sentimos que já demos nada e pouco recebemos. Não damos todos da mesma forma nem na mesma quantidade. A capacidade de entrega e de confiar é muito, muito subjectiva. Se achas que vale a pena continua a lutar por essas pessoas, mas mostra-lhes que também tu tens de receber, que és como eles, que gostas de sentir que eles gostam de ti...