quinta-feira, 13 de março de 2008

CORAÇÕES


Tenho o coração dividido em quatro partes. Tenho duas aurículas que recebem as frustrações, os problemas e as desilusões e dois ventrículos que bombeiam amor, coragem, alegria e audácia para enfrentar tudo o que se me depara.
Mesmo assim, às vezes as válvulas não fazem bem o seu trabalho. Passam algumas decepções por elas, entram nos ventrículos e são disparadas para o resto do corpo. Aí, a respiração acelera, as faces ficam vermelhas, as pernas tremem, os músculos enrijecem, os nervos sobressaem e a voz torna-se gritante, urgente, cortante.
Mesmo assim, as válvulas enganam-se poucas vezes. Às vezes filtram de mais. Sentimos uma paixão imensa pela vida, somos invencíveis, indestrutíveis, podemos ajudar todo o mundo, temos as pessoas certas a nosso lado e nem nos preocupamos com os pequenos sobressaltos.
Os corações não eram os mesmos se não estivem partidos em quatro partes. As duas de amor, as duas de desamor. Nas de amor, circula um sangue vermelho vivo, quente. Nas de desamor, passa um sangue frio, adormecido, desoxigenado, medroso…
Mas é nestes corações que corre a paixão, que corre a vaidade, que corre o brio, que corre a força, que corre a vida. Nestas quatro partes vermelho-vivo. Nestas quatro partes de coração. Nestas quatro partes de nós.

10 comentários:

Silence disse...

Bem...este teu post é lindo!

adorei...

Lia disse...

É bonita a forma como misturar o palpável com o abstracto.

Mafalda disse...

Olha, olha, olha, diz-me uma coisa?

Onde guardas os amigos?
Eu posso ficar na aurícula esquerda.

Diz que sim!

Beijinhos de todo o meu coração*

Pipe Shadow disse...

Tudo isso faz de nós o que somos!...
Somos feitos de carne e osso, mas também de sonhos e emoções.

Colocaste tudo isso neste post, metáfora excelente. Parabéns!

bjs

Gi disse...

E assim, brilhantemente, se faz a dissecação cirurgica e anatomicamente poética do órgão do sentir :)
Lindo!Parabéns!

Miguel F. Carvalho disse...

desde que seja um coração suficientemente grande para aguentar tudo isso, de certeza que nunca haverá problemas... :-)

J-Miccolli disse...

Epá....como são sempre vocês a comentar o meu blog eu também tinha de comentar alguma vez.....Agora falando sério acho que afinal tenho de aprender mais contigo,porque parece que, comparados com os teus, os meus posts são uma nódoa :P!!

Hydrargirum disse...

Bela dissertação sobre o orgão mais metafórico que temos...:)...

E qd este se parte em mil bocados?...Como explicas?...Já perdi partes do meu!:(

Jinhos:)

seni disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
seni disse...

Silence: obrigada.

Lia: ainda bem que gostas. :)

mafalda: os amigos circulam por aí.

pipe: obrigada. ler isso, vindo de alguém que escreve que é uma maravilha, é muito bom. :)

gione: txii, tão grande elogio, thanks xD

miguel: esperemos que sim.

micoli: mas são uma nódoa com estilo, isto é, não é qualquer um que faz nódoas daquelas :P

Hydra: Parte-se em mil bocadinhos quando à misturas entre o sangue vemelho-vivo e o sangue-frio... Hum, parece-me que vou ter de pensar no assunto. Ainda não consegui explicar a parte das perdas... Devem ser hemorragias internas :P

Beijinhos.